5 de outubro de 2017

Ensaio literário sobre a pré-história brasileira.

MAIVOTSINIM
NOSSO AVÔ

     Antes, muito antes de aportarem ao novo mundo as côncavas naus e as caravelas ligeiras, em mares de praias deslumbrantes, sob coberturas de matas que se alongavam nas serras próximas e nos planaltos distantes, cortados por rios largos e ribeirões mansos, habitavam essa terra milhares de tribos familiares inteiras, raças milenares distintas, falando línguas ininteligíveis umas às outras, estranhas, arrevesadas, distintas.
     Chegavam a mais de mil etnias, em todo o Brasil, amigas ou inimigas, ou desconhecidas entre si.
     Os homens das tribos antropófagas Makunas eram preparados a vida inteira para não ter medo da morte, no confronto da guerra em que capturavam prisioneiros. Sentiam-se fomentados pelos pajés, protegidos pelos bons espíritos da natureza e acreditavam nunca perder as batalhas, porque eram amparados pelos espíritos dos antepassados.
     Maivotsinim era o avô de todos os índios, herói milenar e criador das gentes, inventor do primeiro Kwarup, de origem kamaiurá. Se morressem, iriam para a Terra Sem Males, que procuravam desde sempre, de antigas profecias, escutadas dos velhos pajés.
     Realizavam longas migrações continentais, orientados por esses profetas, atrás do paraíso terrestre. No que entravam em contato e em conflito com outras tribos estranhas.
     Os índios acreditavam que existiria além do oceano a épica Terra Sem Males, já que não a encontraram em terra. E os seres vindos do mar seriam deuses e seus delegados etéreos. Mas aqueles deuses navegantes, chegados do além mar, eram brancos e barbudos, coisa que os índios não usavam nunca. Inteiramente vestidos e mau cheirosos, depois de tanto tempo ao léu das águas salgadas.
     Os nativos viviam no paraíso terrestre, acreditou Cristóvão Colombo, iniciando a primeira invasão. Aqui, conheceram os falsos deuses chegados nas caravelas, na exuberante mata que a tudo cobria, indígenas nunca vistos, na sua origem geográfica e mítica, continental e desconhecida dos historiadores e filósofos gregos antigos.
     Nada que a velha Europa pudesse ter previamente imaginado, com a sua vasta experiência de mundo, estabelecendo o colonialismo sugador das riquezas naturais de cada povo. 
     Extinguindo ou escravizando os povos nativos, considerados inferiores, porque não possuíam igual tecnologia armamentista, da Era do Ferro. Porque permanecessem ainda na Idade da Pedra e andassem todos nus, aqueles hereges pagãos, incompreensíveis.
     Karibe, Aruakê, Jê e Tupi.
     Estes foram os principais troncos lingüísticos do Brasil. Karibe eram os Kalapalo, Kuicuro, Nafuqué, Matipuí. Aruaque eram os Meinaku, Yaualapiti, Waurá, que habitavam a região do Rio Negro, no noroeste da Amazônia.
     Dentre os Tukano, situam-se os grupos
Desana
Uanano
Tuyuka
Cubeo
Tatuyo
Barasana
Bará
Karapana
Yuriti
Arapaço
Yepá-masa
Pairatapuio
Siriano
Miriti-tapuio
Yahuna
     E centenas de outros.
     Esses povos têm mitos de origem que contam a emergência dos antepassados como uma ordem seriada de irmãos.
     Maivotsinim, não aceitando a invasão branca e a subserviência de seus filhos e netos aos estrangeiros barbudos, muito bem armados, adentrou a floresta, sumindo nesse sertão de matos, apoiado em seu cajado, no ânimo de salvar todos os índios, orientando os povos da floresta nessa fuga, buscando algum caminho.
     E ninguém nunca mais o viu.  


Reinoldo Atem
2017

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